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Roda de Conversa “Pensando Museus no Paraná” reúne representantes de museus e instituições culturais no Prédio Histórico

Da Superintendência de Comunicação Social  –     1 de outubro de 2018 – 17h34

A equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná (MAE) promoveu a Roda de Conversa “Pensando Museus no Paraná” na tarde de sexta-feira (28) na sala 203 do Prédio Histórico, localizado na Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba. Os participantes discutiram a realidade dos museus no estado e no país e os desdobramentos do incêndio que atingiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro (MNRJ) no dia 2 de setembro.

De acordo com a historiadora e diretora do MAE, Bruna Marina Portela, debater a Medida Provisória nº 850 foi uma das motivações para o encontro. “A MP foi lançada já no dia 10 de setembro, pouco dias depois do incêndio. Ela extingue o Ibram [Instituto Brasileiro de Museus, uma autarquia] e prevê a criação da Abram [Agência Brasileira de Museus, um serviço social autônomo]. Foi uma medida rápida, precipitada e sem diálogo. Muita coisa também está sendo discutida a respeito disso, as implicações de a gente ter uma Agência Brasileira de Museus, a perda de toda a política pública voltada a museus que o Ibram tem feito ao longo desses anos, desde 2009”, avaliou.

A Roda de Conversa “Pensando Museus no Paraná”, reuniu cerca de 30 pessoas no Prédio Histórico da UFPR; à esq., a diretora do MAE, Bruna Portela. Foto: Nicolle Schumacher/Sucom-UFPR

O professor do Departamento de Matemática, José Carlos Cifuentes Vasquez, falou ao grupo sobre o seu contato com as culturas arqueológicas do Peru, país onde nasceu, e lamentou o incêndio que destruiu o Museu Nacional. “Sou consumidor de cultura com muito prazer. Para mim, foi um choque horrível. Nos 30 anos em que vivo no Brasil nunca vi a degradação cultural que temos hoje. Perdemos um pouco da alma do país. Acho que também temos que levar os museus para dentro da própria universidade. Nossos museus não são conhecidos por muitos professores e alunos. O aluno vem, termina a aula e vai embora, não quer mais saber da universidade. Temos que mudar isso”, opinou.

O Museu Paranaense divulgou uma carta aberta após o acidente com a instituição bicentenária que integra o Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vinculada ao Ministério da Educação (MEC). “Na semana seguinte ao incêndio, 28 entidades se juntaram e tiramos uma carta dos museus do Paraná. Já foi publicada, foi para o Ibram, está circulando. O Paraná foi o primeiro estado que se mobilizou para fazer isso em conjunto. Fizemos a carta para as pessoas saberem que existem no Paraná pessoas que se preocupam com o que aconteceu”, explica o diretor do Museu Paranaense e coordenador do Sistema Estadual de Museus, Renato Augusto Carneiro Junior. O Museu Paranaense completou 142 anos em setembro.

O diretor do Museu destacou a importância dos museus para preservação da história e para o futuro da sociedade. “Quando a gente viu queimar o Museu Nacional não perdemos só o passado, perdemos o futuro. Quantas pesquisas e técnicas viriam a ser descobertas e acabou. Precisamos fazer uma museologia do afeto. Há o problema dos museus que não são vistos, não são conhecidos, não são acarinhados. Precisamos colocar os museus da gente no colo, eles carecem de muitas necessidades”, disse.

Manutenção

Estratégias para a manutenção dos espaços e fortalecimento dos museus no Paraná também estiveram em pauta. Os participantes compartilharam experiências, receios e dificuldades que enfrentam no dia a dia nas e pontuaram reivindicações. O grupo estudou a possibilidade de realizar um evento dos museus do Paraná em 2019 e se mobilizou para a criação de uma rede de museus do estado que funcionará por e-mail.

A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPR, Francieli de Almeida Lisboa, pesquisa uma coleção do MAE e, ao se apresentar, externou sua opinião sobre o museu em Paranaguá. “Posso levar minhas turmas. Muitos são moradores de Paranaguá ou cidades vizinhas que nunca entraram no MAE. Os alunos voltam absolutamente encantados. É interessante quando se ressignifica aquele espaço, quando se leva com uma proposta”, destacou. Francieli leciona para o ensino médio e superior e já acompanhou alunos da Licenciatura em Ciências Sociais do Instituto Federal do Paraná (IFPR) em eventos no local.

A professora do curso de Tecnologia em Produção Cênica da UFPR, Joelma Zambão Estevam, estudou quatro museus em sua tese de doutorado — dois de Curitiba e dois de São Paulo. “São espaços maravilhosos e sempre tão vazios. Muita gente não conhece os museus, por isso não vai”, comentou.

Representantes de museus e de instituições culturais, estudantes de mestrado e doutorado, professores da UFPR e interessados na temática participaram da roda. Houve relatos de problemas burocráticos, de dificuldades estruturais, de risco de tombamento e de museus abandonados. Servidores e representantes do Museu de Arte da UFPR (MusA), do Museu Municipal de Arte (MuMA), do Museu Municipal Atílio Rocco, do Museu da Gravura Cidade de Curitiba, do Museu Alfredo Andersen, da Associação de Restauradores e Conservadores de Bens Culturais e do Conselho Regional de Biblioteconomia também participaram do encontro.

Para a diretora do MAE, a Roda de Conversa atendeu à expectativa. “Foi uma espécie de terapia de museus. A gente se escuta e se ajuda”.

MAE

O MAE é vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) e sua sede expositiva está situada em Paranaguá. Em Curitiba estão a Reserva Técnica, no bairro Juvevê – onde fica guardado o acervo -, e a Sala Didático-Expositiva, no subsolo do Prédio Histórico da UFPR. A museóloga do MAE, Ana Luisa de Mello Nascimento, apresentou ao grupo trabalhos desenvolvidos pela equipe do Museu mais antigo da UFPR. “Ele remonta à década de 60, mas na verdade o acervo é até anterior, da década de 50. A gente trabalha diretamente com as ações da universidade que vão tirar a universidade de dentro da universidade, ou seja, as ações extensionistas, com o tripé ensino, pesquisa e extensão”, informou.

Alunos de graduação, mestrado e doutorado e servidores desenvolvem pesquisas nos acervos e trabalham com as coleções. “A gente tem a parte não só de Arquelogia e Etnologia, mas cultura popular, um arquivo histórico, a gente tem uma biblioteca de referência”, complementou Ana Luisa. A equipe do MAE leva o conhecimento à comunidade por meio de exposições temporárias e de curta duração, com empréstimo de materiais lúdicos pedagógicos a escolas, ações educativas, livros de contos, jogos eletrônicos e analógicos, documentários, filmes, além de visitas monitoradas.

“O Museu conta com nove projetos de extensão que integram programas maiores que o MAE promove ao longo de muito tempo. A perspectiva do MAE hoje é muito de tentar tirar esses conhecimentos de dentro da universidade e levar isso para um diálogo e com diferentes linguagens para o público, tanto o jovem quanto o público de pesquisadores e pessoas que buscam materiais de referência para as suas pesquisas”, explicou a museóloga. Há menos de 10 anos, o Museu passou por um processo de restauro. “Mesmo assim, a gente ainda passa por dificuldades que estão sendo sanadas”, disse Ana Luisa.

Por Bruna Bertoldi Gonçalves

 

Confira a matéria da UFPR TV sobre a Roda de Conversa: